Júlio César Martins

Membro da Coordenação Diocesana de Catequese

O evangelista João (1, 35-51) nos recorda que João Batista, ao avistar Jesus Cristo, testemunhou que Ele era o verdadeiro Messias: “Eis o Cordeiro de Deus” (Jo 1, 36). Essa afirmação dava indícios de que sua missão estava concluída, pois ele havia preparado o caminho para a chegada do Senhor. Seu testemunho foi tão convincente que seus discípulos passaram a caminhar com Jesus – “Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus” (Jo 1, 37). Ao questionarem Jesus: Mestre, onde moras? (Jo, 1,38), eles demonstram que estavam dispostos a segui-lo e aprender um novo modo de vida. Para seguir Jesus é necessário renúncia e compromisso, não basta somente “ir atrás”, mas é envolver-se na caminhada com todas as dificuldades que ela oferece. Por isso, Jesus não responde de prontidão à pergunta dos discípulos, mas os convida a caminhar para chegar até sua casa: “Venham e vocês verão” (Jo 1, 39).

Quando queremos conhecer uma pessoa, precisamos saber primeiramente onde ela mora, porque é na sua casa, é em seu “habitat” que ela vive sua intimidade, aquela mais pessoal; é onde ela se fortalece, se anima, e direciona a sua vida. É na intimidade que podemos aprofundar laços. Quando conhecemos uma pessoa não dizemos logo de cara nossas preferências, sequer nossos defeitos, mas aos poucos vamos conhecendo um ao outro, estreitando vínculos e permanecendo ao lado do novo amigo.

Jesus Cristo também deseja todos os anos que crianças, adolescentes, jovens e adultos no início de caminhada catequética venham ao seu encontro desejando adentrar em sua morada. Uma criança muito provavelmente ao ouvir de seus pais que iniciará a catequese, pode questionar: “o que é a catequese?” Ou ainda: “por que preciso ir?”.  Talvez de imediato não se tenha uma resposta, até porque muitos pais também não tiveram a oportunidade de estar ao lado de Cristo. Essas dúvidas que permeiam o início do processo catequético se assemelham ao questionamento dos discípulos: “mestre, onde moras”? E Ele nos responde como respondeu a esses discípulos: “Vinde e vede”. Vamos! É preciso ir, é preciso ver onde Jesus habita, e a catequese é esse lugar.

João narra que André, irmão de Simão Pedro, era um que estava ali e foi ver onde Jesus morava permanecendo com Ele naquele dia. É evidente que muitos catequizandos vão ver onde Jesus “mora”, somente por curiosidade ou obrigação, porém quando se está com Ele, nossa alma e nosso coração se preenchem de amor e bondade. Esses discípulos foram ver onde Jesus morava e não largaram mais d’Ele. Ao ver o Senhor, André reconheceu que Ele era o Messias, e foi atrás do seu irmão, Simão Pedro, para lhe dizer: “Encontramos o Messias”, ou seja, sua alegria era tamanha a ponto de querer que outros também tivessem a oportunidade de conhecê-lo.

Me recordo de uma situação que aconteceu em uma paróquia de nossa diocese: já iniciada a catequese há pelo menos três semanas, um pai chegou apressado numa segunda-feira prestes a iniciar o encontro catequético e perguntou à coordenação onde que fazia a matrícula. A coordenadora prontamente realizou a inscrição da menina para 1ª etapa e ao encerrar questionou o pai: “Nós já iniciamos a catequese há algumas semanas, porque somente agora o Sr. resolveu realizar a inscrição?” O pai meio acanhado respondeu: “Para ser sincero nem íamos colocar minha filha na catequese, mas a amiguinha dela da escola disse que veio na catequese e era muito legal aprender sobre Jesus Cristo, na mesma hora minha filha pediu para vir também, pois ela queria conhecer esse “tal” de Jesus de Cristo”.

Assim como André que foi chamar seu irmão para conhecer Jesus, essa menina recebeu o convite após sua amiga ter conhecido Cristo e por ele se encantar a ponto de convencer sua amiguinha a também fazer essa experiência. O mundo precisa se encontrar com Cristo, mas isso só irá acontecer quando formos ao encontro d’Ele, descobrindo onde Ele mora e permanecendo com Ele.

São João recorda ainda em sua passagem que Filipe, relatou a Natanael que havia encontrado Jesus de Nazaré, no entanto, este segundo mais cético disse: “Pode, porventura, vir coisa boa de Nazaré?” (Jo 1, 46). Jesus teve um pouco mais de dificuldade de convencer Natanael de que era o Messias, não era qualquer argumento que o convenceria, no entanto, ao relatar que já havia o notado debaixo de uma figueira, Natanael acredita ser Ele o Messias. Alguns catequizandos não se convencem do amor de Jesus em pouco tempo, é preciso ser paciente, e Jesus é. Ele faz um convite irresistível e irrecusável: Vem e verás! Não tem como negar.

O Papa Francisco em seu pronunciamento por ocasião do 55º Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 2021, afirma que: “O método «vem e verás» é o mais simples para se conhecer uma realidade; é a verificação mais honesta de qualquer anúncio, porque, para conhecer, é preciso encontrar, permitir à pessoa que tenho à minha frente que me fale, deixar que o seu testemunho chegue até mim” (Francisco, 2021).

É preciso permanecer na presença de Jesus, porque é só estando com Ele que somos transformados. Se nós queremos conhecer Jesus, precisamos ir onde Ele se encontra. E onde Ele se encontra? Dentre tantos lugares, a catequese é muitas vezes o primeiro lugar que crianças, adolescentes, jovens e adultos se encontram com Jesus Cristo.

Referências:

Site do Vaticano.  Mensagem do Papa Francisco para o LV Dia Mundial das Comunicações Sociais. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/communications/documents/papa-francesco_20210123_messaggio-comunicazioni-sociali.html